Do dia 22 a 26 de Maio de 2022 aconteceu em Davos, na Suíça, a reunião do Fórum Econômico Mundial. O evento reuniu importantes líderes mundiais, ministros da economia e grandes empresários para discutir os desafios enfrentados pela economia global. No contexto desta reunião a OXFAM, uma confederação de entidades internacionais, divulgou o documento “Lucrando com a Dor”¹, o qual revela um dado assustador: nos últimos dois anos, a cada 33 horas um milhão de pessoas atravessavam a linha da extrema pobreza. Em contraste, a cada 30 horas o mundo ganhava um novo bilionário.
Ao mesmo tempo em que o evento aconteceu na Europa, fortes chuvas caíram em todo litoral do Nordeste do Brasil. Em Recife, chão de onde escrevemos, em dois dias choveu o correspondente a 80% do esperado para o mês de maio, segundo a Defesa Civil² O volume de água causou a inundação de vários bairros da cidade, deixando famílias inteiras desabrigadas, que buscaram apoio em igrejas e outros locais seguros.
Apesar de parecerem fatos desconexos, a relação entre eles é muito maior do que esperamos. O avanço do aquecimento global é resultado direto do sistema de produção capitalista e sua lógica de consumo desenfreado, acúmulo de bens e exploração de pessoas (as mais pobres) e da natureza.
Assim, a crise climática causada pela alta emissão de gases de efeito estufa daqueles países desenvolvidos, têm afetado a frequência e a intensidade de eventos naturais – como as chuvas. E estas, por sua vez, causam danos sociais e reforçam a desigualdade para além das fronteiras dos grandes poluidores. Ou seja, o benefício é de um, o prejuízo é de todos.
Os cientistas do mundo todo apontam que as mudanças climáticas afetam de maneira desproporcional as pessoas, sendo as mais impactadas aquelas em situação de vulnerabilidade social³. E isso é o que temos visto em Recife: as principais pessoas afetadas pelas fortes chuvas são aquelas que moram em morros e nos bairros periféricos da cidade. Essas pessoas têm menos responsabilidade no avanço das mudanças climáticas, mas são as que mais sofrem com suas consequências.
Para contornar esse cenário, é preciso que aconteça uma dedicação rápida, enérgica e impetuosa de todos os atores da sociedade e frear a crise climática. Se torna urgente mobilizar mecanismos de financiamento para reduzir as desigualdades ao redor do planeta e tornar as populações mais resilientes à mudança do clima. Em ano eleitoral como este, vale ressaltar que é preciso que os governos se comprometam em elaborar políticas de mitigação e adaptação, a fim de criar uma transição justa e sustentável para a economia de baixo carbono.
As lideranças precisam enfrentar com seriedade esta questão. Ano após ano o cenário se repete em Recife e no mundo. É preciso agir para garantir que o desenvolvimento e a retomada econômica impulsione a transformação para um planeta sustentável e resiliente. Não dá para dizer que uma cidade é sustentável quando milhares de pessoas continuam tendo suas vidas afetadas pelos efeitos da chuva. A cidade é então sustentável para quem? Há que se assumir como prioridade a agenda climática se quisermos garantir de fato uma sociedade justa, verde e igualitária.
Por Rayana Burgos e Paulo Ricardo Sampaio
¹OXFAM, 2022, Lucrando com a dor – Sobre a urgência de tributar os ricos em meio a um aumento na riqueza bilionária e a uma crise do custo de vida em nível global.
²Jornal do Commercio PE, Em 48h, Recife registra quase 80% das chuvas previstas para maio (https://jc.ne10.uol.com.br/pernambuco/2022/05/15014304-em-48h-recife-registra-quase-80-das-chuvas-previstas-para-maio.html, Acesso em 25 de maio de 2022).
³IPCC, 2022, Climate Change 2022 – Impacts, Adaptation and Vulnerability.