
Neste 22 de abril, Dia Internacional da Terra, o ISER conversou com representantes de quatro comunidades de fé sobre suas reflexões e iniciativas em prol da preservação do planeta,as possibilidades de acordos e pontos em comum entre as diferentes religiões.
“Um planeta equilibrado reflete uma sociedade mais evoluída, que compreende a sua relação direta com o meio que habita”, observa Carlos Eduardo Marques, espírita e Idealizador da Ambiafro, projeto para democratizar o acesso de profissionais negros ao mercado de trabalho.
Lourdes Brazil, cristã ativista e fundadora do Centro Gênesis defende a “Reaproximação Consciente”, para que os seres humanos se reconheçam como parte integrante da Natureza e assumam a responsabilidade de cuidá-la de forma permanente. Reconectar-se, dialogar e reencantar-se com a Natureza usando todos os sentidos são algumas das ações que Lourdes propõe.

“Não existem fronteiras territoriais, de posição política ou entre religiões para as mudanças climáticas. Todos nós, independentemente da fé, sentimos os impactos negativos dessas mudanças”, destaca Rayane Burgos, umbandista e cientista política. Ela sugere que se “ultrapasse a ideia de que uma religião é inimiga da outra só porque ela não pratica a fé da mesma forma que o outro pratica”.
“É Deus, né? Como é que você vai apresentá-lo? Poluído, sujo, descuidado, queimado e incendiado? Ou lindo, viçoso, gentil e generoso?” A provocação é feita por Ângelo Inácio, católico da Pastoral do Meio Ambiente da Arquidiocese do Rio de Janeiro. Ele acredita que a prova de que “o planeta foi planejado e pensado para dar certo” são as possibilidades de vida mesmo nas áreas mais remotas.

Mas como as religiões podem encontrar os consensos necessários para preservar o planeta? Rayana sugere “caminhar lutando contra os mesmos alvos, que são a degradação da Terra, a poluição e o desrespeito à Natureza”. A inspiração nos símbolos das próprias comunidades de fé também é importante. “A gente tem a inspiração em São Francisco de Assis”, conta Ângelo.”Ele já percebia o Todo como sendo a própria representação da alteridade”, conta.
A disseminação de conhecimento dentro dos próprios espaços de atuação também é uma possibilidade. “A Ambiafro realizou ano passado uma série de postagens em suas redes sociais sobre meio ambiente e ancestralidade, onde contextualizamos o deslocamento que a escravidão impôs aos povos africanos”, conta Carlos Eduardo. “Por meio da educação é possível recriar aquilo que mora dentro de nós”, defende.

Um trabalho semelhante tem sido feito pelo Centro Gênesis. “Através de palestras, cursos, projetos e programas temos procurado inquietar, entusiasmar e envolver as instituições religiosas no processo de superação dos problemas socioambientais e construção da sustentabilidade, usando exemplos bíblicos, como por exemplo o conceito de Mordomia da Terra”, propõe Lourdes.
Carta da Terra completa 21 anos
“Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro reserva, ao mesmo tempo, grande perigo e grande esperança. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio de uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum”.
O trecho acima é o texto de abertura da Carta da Terra. Em 1992, durante a Rio-92, Organizações Não Governamentais e Governos discutiram a proposta de se publicar uma Carta da Terra, promovendo formas sustentáveis de vida. Sem consenso entre os governos, em seu lugar, adotou-se a Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. A Cruz Verde Internacional e o Conselho da Terra, apoiados pelo governo holandês, assumiram o desafio de elaborar uma Carta da Terra.
Em 1995, 60 representantes de diversas áreas se reuniram em Haia, na Holanda e, desse encontro, surgiu a Comissão da Carta da Terra, para organizar uma consulta mundial durante dois anos.
Em 1997, sob a coordenação de Maurice Strong (ONU) e Mikhail Gorbachev (Cruz Verde Internacional), foi redigido o primeiro esboço da Carta. Nos dois anos seguintes, a partir de amplo debate e discussão em todos os continentes e em todos os níveis, de escolas primárias a ministérios, 46 países e mais de 100 mil pessoas se envolveram na redação do documento. Em 1999, Steven Rockefeller escreveu o segundo esboço e, entre 12 e 14 de março do ano 2000, a Carta da Terra foi ratificada. Leonardo Boff é o representante da América Latina na Comissão responsável pelo documento.
Saiba mais sobre a Carta da Terra
Com informações do site oficial de Leonardo Boff