O Acampamento Terra Livre que há 18 anos marca a história política dos povos indígenas no Brasil pintou Brasília de Jenipapo e Urucum mais uma vez neste ano, e pra mim, ativista por justiça climática, acompanhar de perto o ATL em um ano eleitoral crucial para as questões ambientais no Brasil, foi um marco.
Aldear a política e tornar ela mais participativa e diversa foi a mensagem mais ecoada nesses dias, acompanhada da lembrança de que é necessário retomar o Brasil e garantir os direitos de quem ocupa essa terra muito antes das vagas históricas colonialistas que conhecemos marcarem esse chão de sangue.
Porém, como não existe luta sem dança, as cores dos cocares e a beleza dos grafismos espalhados pelo acampamento me permitiram descobrir um Brasil que grande parte dos brasileiros não conhecem, o Brasil do cocar que veio antes do Brasil da coroa. Um país de mais de 300 povos e 274 línguas.
Assim como o Brasil, os povos indígenas são diversos e possuem diferentes formas de apresentar suas crenças e espiritualidades. Antes de marchar, a força dos cantos faz a terra tremer, os rituais ancestrais fortalecem e mantêm quem resiste de pé.
Ouvi alguns relatos e entendi que a fé também tem diferentes formas de se mostrar presente, algumas mulheres Yanomani são evangélicas e um jovem guardião Amazônico diz que, as roupas e o calçado que ele usa são frutos da colonização, mas a Fé que ele carrega em seu coração, não.
Enquanto as plenárias aconteciam, a juventude Guarany cantava, as mulheres Kayapó pintavam e as crianças corriam numa terra seca que sempre foi delas. Lutar é escutar os anciãos que vieram antes e agir com as juventudes que ocupam o agora. “Nunca vi tantos jovens nesse acampamento”, diziam os mais experientes.
O desejo de lutar é um saber ancestral para salvar o futuro e o presente.
Relato de uma não-indígena durante o Acampamento Terra Livre 2022, por Karina Penha.