Na última semana de julho de 2022, entre os dias 28 e 31, aconteceu na cidade de Belém/PA o X FOSPA – Fórum Social Pan-Amazônico. O mote do 10° fórum foi “tecendo a esperança na Amazônia”. Vinte anos após o primeiro encontro realizado também nesta cidade, movimentos sociais, ativistas ambientais, cientistas, povos de fé e da cultura, e as juventudes se encontraram novamente para debater o presente e o futuro da Amazônia e de seus povos.
O encontro que reuniu os diversos rostos da Amazônia expressou bem a diversidade que a floresta possui, seja de fauna e flora, seja social e cultural. Durante os dias do evento várias atividades aconteceram. Como num grande festival, ao mesmo tempo as vozes da Amazônia ecoavam nas atividades, nos grandes eventos, nos espaços de apresentação cultural e no Tapiri ecumênico e inter-religioso.
Três aspectos saltaram aos olhos e merecem nossa atenção: o lugar da cultura no fórum, o papel das juventudes e o protagonismo das mulheres. Sem sombra de dúvidas, num país onde estes três grupos agonizam pela falta de estrutura e investimento, encontrar espaço onde eles são quase que pilares é motivo de celebração e festa.
Os tremor nos corpos denunciavam o que estava acontecendo: o curimbó, o banjo e os maracás abriram a encantaria! O som ecoava pelos espaços e tomava conta de todos. O canto que elevava a todos a uma dimensão outra, quase num êxtase místico, também denunciava a destruição da vida nesta dimensão terrena. O carimbó, movimento cultural, artístico e, podemos dizer, espiritual, ao cantar a vida na Amazônia e nos embalar com seu ritmo envolvente, também desperta nossa consciência crítica.
No canto Queimada, do Mestre Lourival Igarapó, era anunciado: “Foi bem-te-vi quem viu, a terra arder […] a mata queimar […] partiu contrariado de ver tantas queimadas nas florestas tropicais. As vidas se acabando, as fontes todas secando, sem ter água pra beber.”. Num ponto em que a poesia se liga à profecia o mestre denuncia em sua letra a destruição da floresta e suas consequências para a destruição da própria vida.
E como boa profecia, a poesia também anuncia um novo tempo: “Mas um dia a terra gira para o lado do bem. Faz nascer novas sementes na cabeça dessa gente que não pensa em ninguém. É aí que a coisa muda, toda muda terá vida, toda vida terá sol e faz girar o girassol”. Que o tempo de girar chegue!
As juventudes presentes no Fórum Social Pan-amazônico também deram seu recado. Estando como expositores e/ou organizadores em diversas rodas de conversas, os rostos jovens amazônicos fizeram ecoar a luta diária no chão em que pisam e nas redes em que navegam. Destaca-se aqui a ação da RELLAC – Rede de Jovens Líderes em Áreas Protegidas e Conservadas da America-latina e Caribe, que lançou seu manifesto construído a muitas mãos – Jovens Vozes da Amazônia para o Planeta.
Por fim, aqui trazemos o papel profético das mulheres que estiveram presentes e fizeram acontecer o X FOSPA. Resistindo na cultura, nas religiões, nos movimentos sociais, no ativismo ambiental, na agroecologia e na política, foram elas quem deram o tom do FOSPA. Foram elas a força motriz para a realização, organização e condução do fórum.