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Lideranças de diferentes comunidades de fé reivindicam respeito e união no Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa

Representantes do candomblé, catolicismo, judaísmo, da umbanda e de grupo evangélico citam os principais desafios da luta em 2021

Lideranças brasileiras de diferentes crenças compartilharam memórias, mensagens e reflexões com exclusividade para o ISER no Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa.

A intolerância religiosa é um fator importante nos conflitos humanos em todo o mundo há séculos. No Brasil, ela adquire contornos específicos. “O Brasil, nos últimos anos, vivencia um conflito que não é de guerra armada, mas é de um profundo racismo religioso. Portanto, essa guerra é transformada em disputa por espaço midiático e representação parlamentar no governo”, afirma a sacerdotisa Mãe Flávia Pinto

Não por acaso, 21 de janeiro foi institucionalizado como Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa. A data faz referência ao Dia Mundial da Religião e homenageia a iyalorixá Mãe Gilda, que fundou em 1988 o Ilê Axé Abassá de Ogum, Terreiro de Candomblé localizado nas imediações da Lagoa do Abaeté, bairro de Itapuã em Salvador (BA). Ela foi vítima de ataques de ódio e agressões verbais e físicas cometidas por seguidores de outra religião no final de 1999.

“Dia 21 de Janeiro é um dia para nós de muita importância, pois é um dia no qual a Mãe Gilda perdeu sua vida. Não queremos que mais nenhuma e nenhum de nós, nem crianças, nem jovens, nem mulheres e nem idosos sejam massacrados e apedrejados”. Como mulher de terreiro, Mametu Nangetu lembra que a intolerância religiosa se manifesta reprimindo a subjetividade. “Quero que o jovem tenha direito de andar com suas roupas brancas e coloridas, seu torço na cabeça e seus colares”.

É também de longa data a luta de lideranças das mais diversas denominações para que haja respeito a todas as comunidades de fé. O membro da Congregação Judaica do Brasil, Rabino Nilton Bonder, afirma que  “há 30 anos iniciamos com Mãe Beata toda uma tentativa de evitar uma guerra religiosa que acontecia na periferia do Rio de Janeiro. Temos que fazer esse salto evolutivo para a compreensão de que os Deuses de qualquer religião, de qualquer grupo, de qualquer etnia, também são um. Portanto, quem é um somos nós”.

Em sentido horário: Dom Mauro Morelli, Mãe Flávia Pinto, Rabino Nilton Bonder, Mametu Nangetu, Lama Padma Samten e Pastor Ariovaldo Ramos

A importância de encontrar a unidade na diversidade também é motivação do bispo emérito da Diocese Católica de Duque de Caxias, Dom Mauro Morelli. “(É preciso) amar como Jesus amou para que o mundo seja lugar de vida. A casa que o mundo precisa é de unidade da família humana”. Ele reforça que a intolerância deve ser deslocada para os problemas sociais do Brasil, que nós devemos nos manifestar “contra tudo que discrimina, que gera miséria, fome, destrói a obra de Deus, dissimula o ser humano e avilta a nossa Mãe Terra”.

Um dos exemplos desse amor revolucionário de Jesus em tempos de intolerância religiosa é citado pelo Pastor batista Ariovaldo Ramos. Segundo ele, na época em que judeus consideravam samaritanos como hereges, Jesus pediu a uma mulher samaritana para tomar água na mesma cuia que ela usava e conversaram usando a água como tema. Na ocasião, Jesus “reconhece que, embora de forma diferente, e não aceita pela sua religião, os samaritanos estavam em busca do mesmo ser transcendente que os judeus adoravam”.

Essa é apenas uma das diversas histórias que nos inspiram a atuar para “que um respeite o outro em nome de Deus, em nome das Deusas, de todos os Deuses”, como estimula a iyalorixá Mametu Nangetu. Pois “não basta superar a intolerância, é muito pouco ser tolerante, é preciso acolher, entender e bem querer”, ressalta o bispo católico Dom Mauro. Para Nilton Bonder, a luta contra a intolerância religiosa começa com as nossas próprias atitudes. “É muito importante o trabalho de todos nós na ampliação dessa consciência”, defende o rabino.

O sol adquire diversos nomes e atravessa diferentes regiões e países, mas é o mesmo sol. Assim como ele, “nós pulsamos a vida, individualmente e em conjunto”, observa o lama budista Padma Samten. “O nosso sentido religioso, assim como a nossa alegria, a nossa tristeza, a nossa vontade de estarmos todos juntos e o nosso impulso de cuidar dos nossos filhos e amar os nossos amigos está presente não só nos humanos, como em todos os seres”.

Em vídeo divulgado nas redes sociais do terreiro Ilê Omolu Oxum, a iyalorixá Mãe Meninazinha de Oxum se dirigiu a todas e todos que já sofreram algum tipo de preconceito por conta de sua fé. “Não esmoreçam, nós temos que estar sempre juntos para lutar por tudo isso que nos pertence”.

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