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Lideranças e comunidades religiosas mobilizam abaixo-assinado pedindo Justiça por Mãe Bernadete

Mais de 1.700 lideranças e comunidades religiosas assinam um documento que reivindica justiça, direito à terra, liberdade religiosa, justiça racial e de gênero por Mãe Bernadete Pacífico, líder quilombola e mãe de santo assassinada no quilombo Pitanga dos Palmares em Simões Filho, região metropolitana de Salvador, em 17 de agosto passado.

A nota pública pede pela resolução de problemas pelos quais lutou Mãe Bernadete, como a titulação dos territórios quilombolas, regularização fundiária, demarcação dos territórios indígenas e reforma agrária. O texto foi assinado por representantes afrorreligiosos, católicos, evangélicos/protestantes, judeus, budistas, muçulmanos, espíritas, da Fé Bahá’í e de religiosidades indígenas, cigana, wicca e xamânicas

O abaixo-assinado também obteve o apoio da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ), da Coalizão Negra por Direitos e do Movimento Negro Unificado. Além da elucidação do crime, os signatários demandam estruturas firmes de combate ao racismo, à intolerância religiosa, à violência de gênero e de defesa a defensores de direitos humanos.

O vice-diretor do Instituto de Estudos da Religião (ISER) Clemir Fernandes, um dos articuladores da carta, acredita que é na diversidade e no encontro dialogal de diferentes esforços que o Brasil se faz gigante, sobretudo para enfrentar seus mais graves problemas. “Nossa história tem mostrado isso. Neste momento de dor pela morte de Mãe Bernadete, a conjunção de pessoas e grupos de diferentes religiões e atuações sociais demonstram esperança de que podemos superar o racismo, a violência, inclusive de gênero, agrária, religiosa e mais”, afirma.

Leia a íntegra da nota:

“Nós, lideranças e comunidades de fé abaixo assinadas, ficamos consternadas com o assassinato de Mãe Bernadete Pacífico, líder quilombola e coordenadora da CONAQ (Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos), executada dentro do terreiro de candomblé onde era matriarca em Simões Filho, região metropolitana de Salvador, Bahia, na noite desta quinta-feira, 17 de agosto de 2023.

Manifestamos nossa profunda solidariedade aos familiares, filhas/os de santo, amigas/os, companheiras/os de luta e à CONAQ. Repudiamos veementemente o ocorrido e reivindicamos investigações efetivas por parte dos governos estadual/federal e sistemas de justiça que levem à responsabilização de executores e possíveis mandantes.

Fazemos ecoar as palavras da CONAQ:

“Mãe Bernadete, agora silenciada, era uma luz brilhante na luta contra a discriminação, o racismo e a marginalização. Atuava na linha de frente para solucionar o caso do assassinato do seu filho Binho e bravamente enfrentou todas adversidades que uma mãe preta pode enfrentar na busca por justiça e na defesa da memória e da dignidade de seu filho. Nessa luta, com coragem, desafiou o sistema e, como tantas mulheres, colocou seu corpo e sua voz na defesa de uma causa com a qual tinha um compromisso inabalável. Sua voz ressoava não apenas nas reuniões e eventos, mas também nos corações daqueles que acreditavam na mudança.” (Nota do @conaquilombos)

Aguardamos a elucidação desse crime e entendemos que a resolução de problemas pelos quais lutou Mãe Bernadete passa por uma mudança estrutural que envolve a titulação dos territórios quilombolas, regularização fundiária, demarcação dos territórios indígenas, reforma agrária. Assim como, estruturas firmes de combate ao racismo, à intolerância religiosa, à violência de gênero; e de defesa à/os defensoras de direitos humanos.

Conclamamos lideranças, comunidades, grupos e juventudes de fé a se somarem a este nosso grito por justiça, direito à terra, liberdade religiosa, justiça racial e de gênero. Não haverá paz enquanto reinar a injustiça.”

Confira o documento e a lista completa de assinaturas aqui.