Natasha Pitts
é jornalista da Adital
Desde o último dia 8, indígenas, campesinos/as e ativistas equatorianos participam da ‘Marcha Plurinacional pela vida, pela água e pela dignidade dos povos’, que partiu de Zamora e deve chegar, no próximo dia 22, a Quito. A marcha é um grito de alerta para o Governo de Rafael Correa agir para combater a alta concentração de terras e de água, e conter a crise agrária que assola, sobretudo, indígenas e campesinos.
A Coordenadora Andina de Organizações Indígenas (Caoi) aponta que 60% das terras cultiváveis estão nas mãos de 7% dos proprietários e 1% dos proprietários controlam 63% da água de irrigação. A Coordenadora também aponta que o orçamento público é voltado em boa parte para os setores extrativos. Unido a isto, a falta de acesso ao crédito e a dependência de um pacote tecnológico de insumos que está cada dia mais caro, geraram uma crise na agricultura campesina.
As políticas que prometiam uma “revolução agrária” não conseguiram fazer frente a esta realidade. De forma semelhante, o Plano de Terra e Territórios não conseguiu alcançar seus objetivos. As poucas terras entregues aos/às campesinos/as por expropriação provocaram um endividamento impagável para estes, gerando dezenas de conflitos sociais.
Os povos indígenas também enfrentam a ganância do Governo e das empresas transnacionais interessadas em “abrir imensas perfurações mineiras e petroleiras em nascentes de água e territórios de alta biodiversidade”, afirma a Caoi. Cordillera del Cóndor, Parque Nacional Yasuní, Intag, Molleturo, Limón, Santa Isabel, Esmeraldas e Kimsacocha são alguns dos territórios vitimados.
As acusações de terrorismo também são frequentes. Os que reclamam respeito aos direitos da natureza e aos direitos humanos fundamentais como água, terra e participação nas decisões que os afetam são constantemente perseguidos e veem roubado seu direito de se manifestar.
Estas são algumas das razões que motivaram os manifestantes a marchar. A vontade de lutar por seus direitos e a necessidade de proteger os bens naturais motivou centenas a fazer uma longa caminhada rumo a Quito “para mudar a história, para mudar os rumos do país”.
“Não queremos nos conformar em sobreviver em um país devastado, em um país onde reine o medo ou a indiferença, em um país com realidades paralelas de rios mortos e de estradas idílicas, de gente ‘feliz’ com seu punhado de dólares dados pelo Estado e de gente doente pela contaminação mineira e petroleira, de gente que se consome no consumismo e de gente com sua selva destruída, morta em vida, sem memória nem identidade, privada de sua condição humana, reduzida a um despojo indígena entre árvores e animais crivados”, manifestam.
Com vistas nisso, uma das exigências dos indígenas equatorianos e de suas organizações é a aprovação da Lei de Águas para o Bem Viver, que contemple o respeito às funções da água, garanta o direito a este bem de forma gratuita, crie o Fundo da Água, fortaleça a gestão comunitária da água e proíba sua contaminação.
Demandam, ainda, a aprovação da Lei de Terras e Territórios, que se paute na construção de um modelo agrário para a soberania alimentar baseada na produção campesina, promova a propriedade comunitária e associativa, condene o latifúndio e a concentração de terras e redistribua a terra aos campesinos sem terras.
Siga a Marcha ao vivo
