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Mesa redonda discute ação dos parlamentares evangélicos sobre direitos dos lgbts e das mulheres

Tadeu Goulart

video2No último dia 21 de março, o Iser e a Fundação Heinrich Böll realizaram a mesa redonda com o lançamento do livro “Religião e Política: análise da atuação de parlamentares evangélicos sobre direitos das mulheres e de LGBTs no Brasil”. O livro é de autoria de Paulo Victor Leite Lopes, membro da equipe de pesquisadores do ISER e da antropóloga Christina Vital, pesquisadora da Universidade Federal Fluminense (UFF).

A publicação é um estudo feito a partir de dois episódios que tiveram repercussão nacional. O primeiro foi o tratamento dado ao aborto na campanha presidencial de 2010. Já o segundo, o caso que ficou conhecido na mídia como “Kit anti-homofobia” ou “Kit Gay”, que seria distribuído pelas escolas para orientar crianças sobre diversidade sexual e convivência.

A abertura da mesa foi comandada pela coordenadora de direito humanos da Fundação Heinrich Böll, Marilene de Paula. A representante reforçou a importância do debate diante das tensões e transformações que o mundo religioso propõe atualmente, inclusive refletindo sobre a nomeação de um papa latino-americano: “até mesmo a chegada de um papa argentino faz a gente ver que há mudanças ocorrendo e traz também uma importância nova para a América Latina”.

Pesquisa e relatos
Com cerca de 150 participantes, o auditório lotado acompanhou a apresentação da pesquisa e do diálogo que se seguiu com a exposição dos diversos pontos de vista oferecidos pelos convidados. Christina Vital explicou que os evangélicos não são os únicos que se constituem como um grupo religioso organizado no Congresso. Além deles, existem outros, como Frente Parlamentar Católica e a Frente de Terreiros.

Ela esclareceu que a escolha de Frente Parlamentar Evangélica, formada em 1983, ocorreu porque “o modo a partir do qual eles vêm avançando no espaço público proporcionou um reposicionamento de alguns atores no cenário religioso e político. Já são cerca de 70 parlamentes na Frente e, mesmo assim, muitos deputados do PSC, por exemplo, não estão oficialmente incluídos neste grupo”.

O aborto também foi uma questão muito discutida no livro devido ao alcance que teve nas campanhas eleitorais. Beatriz Galli, da organização internacional Ipas, defende a legalização da prática e comentou os recentes casos de estouros de clínicas para a prática do aborto, que têm levado à criminalização de mulheres que já o realizaram.

debate

O “kit-gay”
Na mesa, a questão do material educativo que ficou conhecido por “Kit-Gay” foi comentado pelo superintendente de direitos individuais, coletivos e difusos da Secretaria Estadual de Assistência Social e Direitos Humanos do Rio de Janeiro (SEASDH/RJ), Cláudio Nascimento. Para o representante, “a questão do material educativo deu uma demonstração do quanto ainda há fragilidade no debate com o governo e o quanto a questão dos direito humanos é moeda de troca num debate maior”.

Em sua fala, ele disse que a luta pelos direitos das minorias encontra muitas dificuldades de se pautar na sociedade e que o discurso religioso de gestores da Educação influencia o crescimento da barreira entre debate social e as instituições de ensino. “Esse lugar da agenda obscurantista do fundamentalismo religioso tem atravancado também as agendas dos Estados. É fundamental a gente estar numa agenda capaz de trabalhar uma unidade na diversidade”, opinou.

O deputado federal e coordenador da Frente pela Cidadania LGBT, Jean Wyllys, que foi entrevistado para o livro sobre o tema, disse que a existe hoje no Congresso uma agenda moral que sustenta os interesses dos próprios parlamentares, demonizando determinados grupos sociais, como as religiões de matrizes africanas. Para ele, “o repúdio público a estes representantes demonstra que a sociedade reage. Ela só precisa ser mais solidária, se articular e traçar um plano comum de garantia das liberdades individuais, incluindo a religiosa, e que possamos promover o bem de todos sem qualquer descriminação”.

Ligado ao campo protestante-evangélico, o pesquisador do Iser, Clemir Fernandes, pontuou que mesmo dentro da comunidade evangélica também existem conflitos sobre os temas, e assim, não há uma unidade que represente um segmento religioso unitariamente. “Nosso trabalho é reafirmar que toda produção de informação deve ter um compromisso com a democracia e diversidade. Saber quem são os atores do campo e que há disputas nos desafia cada vez mais, quebrando também com nossos preconceitos.”

mesa redonda

Espaço de troca
Ao final da mesa, o público também teve voz para questionar e discutir os temas abordados. André Guimarães, metodista e articulador da Rede Fale RJ, disse que “seria preciso também pensar grupos que estão no parlamento indo contra esse posicionamento fundamentalista e que são aliados da Frente Evangélica. Isso transgride a fala de que todo cristão é alienado e a reprodução dela leva ao outro extremo, que invisibiliza os aliados”.

Para o presidente da Confederação Muçulmana do Rio de Janeiro existe um equívoco em relação às religiões e ao que é ser humano. Segundo ele, “se nós seguíssemos a máxima de Jesus seria o perfeito: amar a Deus – ou a entidade a que se sirva – como todas as coisas e respeitar o próximo como a si mesmo”.

Confira também o vídeo sobre o evento.