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Nota de falecimento do antropólogo Frei Tito

É com pesar que comunicamos o falecimento de nosso colega e companheiro Frei Tito Bartolomeu Figueiroa de Medeiros (1941-2020), antropólogo pernambucano, pesquisador do fenômeno religioso e do patrimônio cultural imaterial no Nordeste e no Brasil. Além de sua intensa atividade como docente e pesquisador nas universidades e nas ONGs como o ISER onde foi ativo colaborador na década de 1990, teve também atuação marcante nas pastorais sociais. Essa opção pela causa da justiça está na base da escolha do seu nome religioso que foi uma homenagem a Frei Tito Brandsma, frade carmelita como ele que faleceu no campo de concentração de Dachau, assassinado pelos nazistas por defender a liberdade religiosa e os judeus. A empatia de Tito para com outros credos levou-o, tanto no ISER quanto na diocese do Recife a participar com empenho no diálogo inter-religioso. Outra inspiração sua foi D. Helder Câmara, que esteve à frente da diocese do Recife quando ele era jovem padre. Tito foi um inovador na Congregação religiosa que escolheu para se incorporar, a dos Carmelitas, trabalhando sempre com os jovens seminaristas e leigos em contexto urbano. Ali teve outra referência forte para sua ética de vida, Frei Caneca. Foi sobre essa figura libertária que Tito publicou seu último texto em 2017, o livro “Frei Caneca: vida e escritos”.

Frei Tito morreu aos 79 anos — Foto: Reprodução/TV Globo

Como antropólogo, Tito deixou uma profícua produção nas áreas do catolicismo popular, Nova Era, religiões afro-brasileiras e cura religiosa/saúde, explorando dentro desses campos a dimensão do sincretismo na sua complexidade. Sua dissertação de mestrado teve o título “Nossa Senhora do Carmo do Recife: a brilhante senhora de muitos rostos e sua Festa” defendida em 1988 no PPG de Antropologia na UFPE sob a orientação de Roberto Motta e sua tese de doutorado “Entre almas, santos e entidades: mediações” defendida em 1995 no PPGAS do Museu Nacional da UFRJ sob a orientação de Rubem César Fernandes. Dentro desta temática nas publicações do ISER ele deixou importantes contribuições como: “São Sebastião/Oxossi e São Jorge/Ogum” em Comunicações do ISER, v.45, 1994 e “Deslocamentos em dois cortejos processionais católicos” em Religião e Sociedade v. 28, 2007. Também coordenou o GT da ABA sobre Patrimônio e Museus de 2009 a 2011 e esteve envolvido na valorização das comunidades quilombolas do Nordeste estando ligado ao IPHAN, inclusive dentro da luta pela sua demarcação.

Ao longo de um período de treze anos foi docente no Departamento de Antropologia e Museologia da UFPE e no Programa de Pós-Graduação em Antropologia, orientando dezenas de dissertações, teses e monografias e assumindo a coordenação deste Programa entre 2009 e 2010. Reunindo os anos de docência e assessoria em seminários Carmelitas, Franciscanos e na Conferência dos Religiosos do Brasil ao período na UFPE, aposenta-se em 2010, seguindo, contudo, até 2017 como docente colaborador nesta universidade.

Neste ano, ele se retira da lida acadêmica, indo ser pároco da Igreja da Piedade em um bairro de Recife para uma “vita vera apostólica”. Sintomático que as informações no seu currículo Lattes cessem neste ano.

Tito faleceu em 28 de março deste ano, em Recife. Ele foi múltiplo, dinâmico, incansável, agregador, cativante. A antropologia (da religião), o ISER, a Congregação dos Frades Carmelitas, a Igreja Católica, seus pares de outras religiões com quem dialogava, seus paroquianos, as comunidades quilombolas e sobretudo seus amigos e amigas vão sentir muita falta dele.

Nota gentilmente escrita por Marcelo Camurça, antropólogo, membro da diretoria do ISER (2000 -2004), amigo de longa data de Frei Tito, desde que ingressaram juntos na turma de doutorado do PPGAS, Museu Nacional em 1989.