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Nota de Repúdio ao Racismo Religioso

Iniciamos o ano de 2022 com a terrível notícia de mais um ataque contra Terreiros, desta vez em São José da Coroa Grande, no litoral do estado de Pernambuco. O Ilê Axé Ayabá Omi, mais conhecido como Terreiros das Salinas, teve 100% de suas dependências destruídas por um incêndio proposital, cuja autoria ainda não foi identificada.

Para além das atividades religiosas, o Terreiro das Salinas é responsável por uma série de iniciativas sociais na Comunidade Abreu do Una, localizada na região. Entre elas, a distribuição de alimentos, as aulas de reforço escolar para as crianças e a entrega de cestas básicas da Campanha Tem Gente Com Fome, da Coalizão Negra por Direitos. Um boletim de ocorrência foi aberto pelos integrantes do Terreiro e a Polícia Civil deu início às investigações. Também foi dada entrada em um pedido de investigação pelo Ministério Público do Estado de Pernambuco.

Em respostas aos ataques, uma grande rede de suporte aos membros do Terreiro foi criada e mobilizada, sobretudo por homens e mulheres negros. A Coalizão Negra Por Direitos, entidade que reúne dezenas de organizações e coletivos antirracistas no país, emitiu nota em apoio ao Terreiro, condenando o racismo religioso. De tradição Jeje-Nagô, o espaço existe há cerca de dois anos e é liderado pelo Babalorixá Lívio Martins, que, em vídeo publicado no Instagram do Terreiro, lamentou o ocorrido e agradeceu o apoio que os religiosos vêm recebendo. A liderança também informou que, mesmo com os traumas provocados pelo ataque, tudo o que for necessário será feito para a reconstrução do Ilê. Uma chave pix está sendo compartilhada para aqueles que puderem contribuir financeiramente para o restabelecimento do terreiro: terreirosalinas@gmail.com.

Vale reforçar que, infelizmente, casos de racismo religioso como esse não são eventos isolados: são recorrentes as notícias que informam depredações aos espaços de religiões de matriz africana, afro-brasileiras e afro-indígenas, principais vítimas de intolerância religiosa no Brasil. A poucos dias do fim de 2021, uma casa de reza da aldeia Ita’y Kagurusu, do povo Guarani-Kaiowá, foi incendiada em Douradina, a 192 quilômetros de Campo Grande. Lideranças indígenas locais afirmaram que as oga pysy, casas de reza tradicionais Kaiowá, são um patrimônio coletivo da religião do povo Guarani-Kaiowá e o incêndio – o último dos cinco ocorridos somente no ano de 2021– tiveram como motivação principal a intolerância religiosa.

O ISER repudia os atos de racismo religioso sofridos em Salinas, em Douradina e também os incontáveis outros perpetrados cotidianamente contra adeptos de religiões de matriz africana, afro-brasileira e afro-indígenas no país. No mês em que se comemora o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, o ISER reafirma seu compromisso com a diversidade e com a valorização de todas as religiões, religiosidades e entidades sagradas, além de se somar às organizações do campo dos Direitos Humanos para reivindicar a resolução dos crimes de intolerância religiosa cometidos no Brasil. Um país mais democrático depende diretamente do respeito e da valorização de todas as religiões.