Na tarde do último sábado, 26 de abril, a esquina na frente do antigo prédio do Dops foi ocupada por “memórias imaginadas” de e sobre Augusto Boal, e pelo reconhecimento do potencial libertador da arte. Nessa tarde, a campanha Ocupa Dops, que reivindica a transformação do ex-DOPS (Departamento de Ordem Político e Social) em um espaço de memória das resistências, promoveu, com o apoio do Instituto Augusto Boal, da editora Cosac Naify e da livraria Folhas Secas, o lançamento do livro “Hamlet e o filho do padeiro – memórias imaginadas”, de Augusto Boal.
Boal nasceu no Rio de Janeiro, em 1931. Filho de padeiro, cresceu na Penha, estudou engenharia química, foi teatrólogo, diretor, dramaturgo, ensaísta, criador do Teatro do Oprimido, estando sempre comprometido com a transformação da realidade social. Na ditadura militar, foi preso, torturado e exilado, ficando fora do Brasil durante 15 anos. Ele faleceu em 2009. “Hamlet e o filho do padeiro” é uma autobiografia de Augusto Boal, em que ele descreve as memórias desses e de inúmeros outros episódios de sua trajetória, permeada por resistência, integridade e paixão.
O lançamento do livro foi prestigiado por familiares de Boal de várias gerações, amigos e admiradores do trabalho do teatrólogo. O evento começou com a fala de Ana Bursztyn-Miranda, integrante do movimento pela transformação do prédio do antigo Dops, que explicou a proposta do Ocupa Dops. A psicanalista Cecília Boal, viúva de Augusto Boal, contou que o dramaturgo foi preso no Dops de São Paulo e por isso é tão simbólico o lançamento ser feito no contexto da campanha, expressando o desejo de que não aconteçam mais torturas e repressões e de que as do passado não sejam esquecidas. Em seguida, dois vizinhos da família de Boal na Penha, que souberam do lançamento através da divulgação na internet, relataram suas memórias sobre a padaria do pai de Augusto. Marco Antônio, 65 anos, ainda morador da Penha, conta que aquela era “a melhor padaria do bairro, do mundo, porque só tinha aquela.” Irna Reis, também vizinha, completou dizendo que como não tinha comércio na região, a padaria era o point. Ela contou que em dias de eventos, os moradores pediam para passar as carnes na padaria. “É gostoso lembrar essas histórias, lembranças é o que faz a gente continuar”, disse Irna.
O lançamento também contou com a apresentação musical do Trio Capitu, composto por Débora Nascimento, no fagote, Janaína Perotto, no oboé, e Sofia Ceccato, na flauta. A convite de Cecília Boal, Numa Ciro leu o episódio do livro que retrata o casamento dos pais do Boal, que conta como que “por um triz, eu quase não nascia”. O diretor de cinema Walter Salles, vizinho durante muitos anos de Boal, escreveu a contracapa do livro e leu sua homenagem ao dramaturgo. Após a leitura, emocionado, disse que “é muito difícil fazer justiça em palavras”.
A homenagem ao dramaturgo encerrou com a exibição do documentário Augusto Boal, dirigido por Fabian Boal e Libero Saporetti, que foi projetado na fachada do prédio do antigo Dops.