Maria Rita Villela
Maria Rita Villela é pesquisadora de meio ambiente do ISER e formou-se no programa Liderança para Segurança Climática, para o qual contribuiu o prof. Eduardo Viola, e é fellow Lead Cohort-13.
Falar em sustentabilidade é coisa do passado. Entramos em uma época em que a sustentabilidade deve ser obrigatoriamente aliada à transição para uma sociedade de baixo carbono. Mas o que é isso?
Sociedade de baixo carbono é um termo usado para designar uma sociedade que emita menos carbono em suas atividades. Segundo o professor de Relações Internacionais da UNB, Eduardo Viola, o desafio não é pequeno, mas tem que ser enfrentado desde já, o mais rapidamente possível, em diversas frentes, em número de treze.
O primeiro passo é promover uma revolução na matriz energética para que a geração de energia pare de influir no ciclo do carbono. Quanto menos essa matriz emitir carbono, melhor. Isso inclui a aceleração do aumento da eficiência energética através da incorporação de novos hábitos e de novas tecnologias.
O segundo passo requer o aumento do uso das energias renováveis como a hidroelétrica, a resultante de biocombustíveis, a solar e a eólica. Mas atenção às diferenças: um litro de etanol de segunda geração no Brasil, que provém da cana de açúcar, poupa 75% das emissões em relação à gasolina. Já o etanol de milho, comum nos EUA, poupa somente 15% das emissões.
O terceiro passo é a utilização de energia nuclear onde ela é viável. Já existem reatores de terceira geração que não oferecem riscos de acidentes. Os do Brasil ainda são de segunda geração e portanto não são recomendados.
O quarto passo é acabar com o desmatamento já que 18% das emissões globais provêem dessa fonte. O desmatamento resulta de conversões irracionais de florestas para empreendimentos de baixa eficiência, ou seja, que não dão o retorno econômico ou ambiental que os justifiquem. Neste passo inclui-se também o plantio de florestas de áreas originalmente não florestadas.
O quinto passo é diminuir a presença de alguns alimentos da cadeia alimentar, principalmente a carne bovina. Aqui não se faz apologia ao vegetarianismo, mas à racionalização do consumo de alguns produtos que deixam um rastro de emissões muito grande.
O sexto passo é perceber a questão climática como um problema de saúde pública. A variabilidade do clima causa mortes e doenças através de desastres naturais como ondas de calor, alagamentos e secas. Nesse contexto, muitas doenças são sensíveis às mudanças de temperatura e à precipitação, dentre elas a malária e a dengue, e outras causas de morte como desnutrição e diarréia.
O sétimo passo é aumentar a eficiência sistêmica no uso da água, reduzindo ou eliminando desperdícios.
Prevê-se para o futuro a escassez de água em muitas regiões devido às mudanças no regime de chuvas. Quanto mais conservarmos água mais água teremos para nos abastecer no futuro.
O oitavo passo diz respeito ao transporte. Devemos priorizar o transporte público e a infra-estrutura, aumentando a multimodalidade (isto é, a combinação de várias modalidades de transporte), que no Brasil de hoje não há. A utilização de ferrovias e hidrovias pode ser algumas das alternativas tanto para o transporte de carga quanto para o de pessoas.
O nono passo é a captura e o armazenamento de carbono (CCGS) em empreendimentos de petróleo e gás. O temor de alguns ambientalistas é que essa tecnologia sirva como desculpa para que as empresas de óleo e gás continuem suas políticas irracionais e deixem de lado alternativas energéticas. Num mundo ainda dependente do petróleo essa tecnologia se faz muito necessária, sem se deixar de lado o desenvolvimento de outras fontes de energia.
O décimo passo tange o transporte aéreo. Seria irrealista acreditar no fim do transporte aéreo, portanto, novos materiais, maior eficiência e a aerodinâmica podem reduzir em muito as emissões provindas desse setor.
O décimo primeiro passo prevê a utilização de células de hidrogênio como fonte energética. Por mais que essa tecnologia não esteja difundida devido ao seu alto custo, essa certamente será uma das fontes de energia do futuro.
O décimo segundo passo é a descentralização das fontes de energia. A descentralização poderá estimular novas pesquisas e desenvolvimento de alternativas energéticas, contribuindo para uma gama maior de opções para o consumidor.
O décimo terceiro passo é a chamada “big science” (ciência grande). Essa revolução no campo científico prevê uma sinergia entre biotecnologia, nanotecnologia, neurologia, genética e energia. São tecnologias ainda em desenvolvimento (como energia geotérmica, eólica de altitude, energia das marés e oceânica) que prometem mudar o rumo do mundo dependente em combustíveis fósseis.
É importante lembrar que a transição para uma sociedade de baixo carbono segue a máxima de que todos os caminhos são necessários e complementares, portanto, não importa por onde comecemos e sim que comecemos rápido por algum lugar.