No Brasil é de repente, nos finais dos anos 90, que começa a crescer uma inédita discussão sobre o trabalho voluntário e a doação individual. Um debate quase nada acadêmico e desenvolvido no campo fronteiriço ao das próprias entidades privadas de ação social, de agências governamentais e dos grupos empresariais ligados ao chamado investimento social. Se fenômenos reconhecíveis sob esses termos sempre existiram na sociedade brasileira, eles passam agora a se constituir como uma questão, objeto de novas definições e enquadramentos na formação de práticas e de opinião.
Em que terreno caem esses investimentos? Somos remetidos para o vasto campo de práticas abaixo da linha d’água, das formas de sociabilidade marcadas pela pessoalização, dos laços de solidariedade e das variadas redes comunicativas e de reciprocidade às quais correspondem obrigações diversas – como se sabe terrenos, por aqui, particularmente frágeis quanto a componentes cívicos e que nos conduzem a fronteiras pouco nítidas entre o religioso e o secular, o público e o privado. Conte-se aí também o universo das organizações voltadas para a ação social, parte dele recente e que vem sendo permeado pela lógica da cidadania.
Essa pesquisa, desenvolvida no ISER e coordenada por Leilah Landim e Maria Celi Scalon, pretendeu contribuir para uma avaliação de quantidades, perfis, atitudes e opiniões das pessoas que efetivamente realizam doações e formas diversas de ação voluntária, no país, em que pesem seus possíveis enquadramentos, usos e abusos.